TATUAGENS, TATUADORES E TATUEIROS – O RESPEITO QUE CABE A CADA UM
Marcado no corpo, sob a pele perfurada
e sobre a carne magoada fixa-se o desenho escolhido. A intervenção humana se dá
pela tinta, pela dor e pelo sangue, dura o tempo de uma vida, da vida de quem a
leva, do fragmento de vida que lhe resta. Transcende o estético, ninguém possui
a tatuagem, ela é o corpo de cada um, como qualquer órgão, marca ou cicatriz.
Quem pode listar as incontáveis
motivações que levam alguém a essa escolha? Quem pode julgar a estética de cada
pessoa? Eu, certamente, não. Foi como um banho de água fria descobrir que desde
o séc. XIIX a tatuagem é uma linguagem “contemporânea”, com possíveis apropriações
artísticas e não mais um estigma que identifica bandidos, prostitutas ou
viciados. E eu me achando tão moderno…
Foi um chacoalhar ouvir do meu amigo Rodrigo Botero, de quem com muito orgulho já fui orientador e por quem, com orgulho ainda maior, já fui orientado, que esse papo de “tatuagem como linguagem e corpo como suporte” já deu, encheu o copo. A ideia de que tentando ser vanguardista me mantenho contemporâneo ainda permanece, porém o que é vanguarda ou atual é que preciso reavaliar. O ponto de vista conceitual volta à estaca zero, porém a ética permanece, ainda bem.
Quanto à ética, penso o seguinte:
somos profissionais, exigimos respeito. Mas estamos, de fato, fazendo por
merecer esse respeito? Quem é hoje o profissional da tatuagem? O sujeito que
possui as máquinas, as tintas e agulhas e a coragem para injetar essa tinta sob
a pele de alguém já pode se dizer profissional? Para mim, não. Me parece óbvio
que a detenção da técnica seja fundamental, tanto quanto um mínimo de cultura
artística, conhecimento de desenho, capacidade para apresentar propostas e
soluções a seus clientes, procurando inovar com criatividade e segurança,
compreendendo e tratando cada cliente como único, tanto do ponto de vista
anatômico quanto sócio-cultural, e percebendo que a pequena flor no ombro da
garota pode ter, para ela, o mesmo peso que tem para o guitarrista daquela
banda o seu braço fechado. É preciso entender que tanto a pequena flor quanto o
braço fechado precisam ser, ao menos enquanto são executados, tratados com
igual respeito e dedicação. Temos nossas preferências, é claro, mas vamos deixá-las
para depois, quando a coisa já estiver pronta.
Não é crime recusar-se a realizar um
trabalho, feio é aceitá-lo pelos motivos errados e tratá-lo com descaso ou
desprezo. Sendo mais honestos conosco e com nossos clientes certamente
estaremos fazendo muito mais pelo nosso trabalho e pela tatuagem em geral.
Para o momento, é só o que tenho à dizer. Devaneios estéticos e conceituais, preciso desenvolvê-los mais e melhor para que possa defender então um ponto de vista mais realista, coisa que faço durante toda minha carreira, de maneira honesta e consciente. E é essa consciência que às vezes dói...
(Texto de Marco Teixeira originalmente postado em: http://indelevel.org/ )
Marco Teixeira cursou a Escola de Musica e Belas Artes do Paraná onde obteve licenciatura plena em desenho, tornando-se artista por opção e insistência. Vem nos últimos dez anos dedicando-se quase que exclusivamente à tatuagem. Apresenta em seus trabalhos uma proposta bastante contemporânea, tentando sempre se manter o mais distante possível do que considera tatuagem tradicional.
SERVIÇO:
Estúdio Teix
(41) 3018-2732 | 3019-2294
Av. Vicente Machado,666 - Batel Soho
estudioteix@gmail.com
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